Câncer de Cabeça e Pescoço.

Você já ouviu falar de câncer de cabeça e pescoço? Sabe que estruturas podem ser atingidas pela doença?

O câncer de cabeça pescoço, de forma genérica, é qualquer neoplasia que atinge a mucosa da via aerodigestiva superior – compreendida pela boca, faringe e laringe.

Parece complicado, não é?

Esclarecendo: São tumores que acometem a cavidade nasal (nasofaringe), a cavidade oral (orofaringe), a laringe e a hipofaringe.

Há, também, alguns tipos não relacionados à mucosa de tais estruturas. É o caso dos tumores nas glândulas parótidas, salivares e tireoide e, também, nos ossos da cabeça e pescoço.

Os mais incidentes:

O oncologista do Hospital do Câncer de Barretos, Dr. André Lopes Carvalho, explica quais são os tipos mais incidentes de câncer de cabeça e pescoço:

“Excluindo-se a glândula tireoide, 80% dos cânceres de cabeça e pescoço acontecem na mucosa da faringe (orofaringe, hipofaringe e nasofaringe), cavidade oral e laringe. Dentre estes, o mais comum é na cavidade oral”.

Embora pouco se fale dessas neoplasias na imprensa e em campanhas de saúde pública, alguns tipos de câncer de cabeça e pescoço têm considerável incidência no Brasil, segundo registros do INCA (Estimativa 2014 – Incidência do Câncer no Brasil).  Desconsiderando-se os tumores de pele não melanoma, o câncer da cavidade oral em homens é o quarto mais frequente nas regiões sudeste e nordeste; o quinto na região centro oeste e o sexto nas regiões sul e norte.

Sobre a incidência deste câncer por região, Dr. Carvalho pondera que não se sabe, ao certo, se o número de casos é realmente maior nas regiões apontadas ou se trata-se apenas de registros mais fidedignos de casos.

“Historicamente este é um câncer ligado ao consumo de tabaco e álcool e associado a uma má condição de higiene oral. Então, costuma ser mais prevalente em classes econômicas mais baixas. Nesse sentido, acredita-se que haveria um número de casos muito maior nas regiões norte e nordeste. Mas não é o que acontece no registro oficial”, diz.

Fatores de risco e mudanças no perfil de incidência

Os principais fatores de risco para os cânceres mais incidentes de cabeça e pescoço são o tabagismo, o etilismo e a infecção por vírus HPV, e a população mais atingida, historicamente, sempre foi pessoas acima dos 50 anos.

No entanto, há algumas décadas, o perfil de incidência mudou, indicando modificações de comportamentos sociais. Enquanto nos anos 80 e 90, 80% dos pacientes eram fumantes, etilistas e com idade superior a 50 anos, hoje são pessoas mais jovens e HPV positivas.

O oncologista do  A. C. Camargo e coordenador da equipe de prevenção do Hospital, Dr. Thiago Celestino Chulam, aponta que a mudança no contexto da doença concerne à prática de sexo oral desprotegido: “O contato com o HPV tem repercutido no aumento de casos de câncer de orofaringe em pessoas não tabagistas e não etilistas. Isso vem sendo discutido em todos os congressos de cabeça e pescoço”.

Hoje não há campanhas de saúde pública alertando sobre os fatores de risco e prevenção da doença, mas Dr. Thiago acredita que por ser uma doença com incidência em ascensão, possa haver ações em um futuro próximo. E é crítico: “Apesar de eu achar que o tema já deveria ter chamado atenção do governo, pois o tratamento desses tumores e a dificuldade de reinserção desses pacientes na sociedade já são apelos muito grandes para isso. Esses pacientes ficam, eventualmente, mutilados e, com isso, excluídos de seu meio social”.

Prevenção e os desafios no Brasil

É possível, sim, prevenir o câncer de cabeça e pescoço assim como diagnosticá-lo precocemente. Porém, no Brasil, ainda estamos muito distantes de praticar a prevenção primária e secundária dessa neoplasia, e o resultado é um imenso número de diagnósticos em estágios avançados.

Prevenção primária passa, impreterivelmente, por não fumar, não consumir bebidas alcoólicas em excesso e praticar sexo oral sem proteção, além de manter hábitos saudáveis de higiene bucal, com visitas regulares ao dentista – o que pode propiciar diagnósticos em estágios mais iniciais.

Mas será que a população brasileira é alertada sobre isso? Certamente não! Há pouco conhecimento sobre os fatores de risco e formas de prevenção desta neoplasia. A presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz, analisa:

“A pesquisa “Conhecimento sobre o Câncer”, que realizamos em 2013, mostrou que, infelizmente, o brasileiro conhece muito pouco sobre os cânceres mais incidentes. Que dirá dos cânceres pouco frequentes? Esse alerta exige um esforço conjunto, de saúde pública, profissionais da saúde, entidades sem fins lucrativos etc. Exige, também, que rompamos com os apelos tão fortes da indústria do álcool, como fizemos outrora com a de tabaco”.

O despreparo da saúde

De cada 4 diagnósticos de câncer de cabeça e pescoço, 3 são em estágios avançados, quando as chances de cura da doença são pequenas e há grande possibilidade de mutilação e sofrimento dos pacientes.

Algumas razões são determinantes para este quadro: o fato da doença ser assintomática nos estágios mais iniciais, de pacientes negligenciarem os primeiros sintomas e de profissionais que geralmente têm o primeiro contato com o paciente não estarem aptos a identificar a doença.

Sinais e sintomas:  Fique atento!

Feridas na cavidade oral, ronquidão e dificuldade de engolir persistentes por mais de 15 dias, principalmente em indivíduos com mais de 40 anos, devem ser sinais de alerta, aponta Dr. André.

“Os tumores na cavidade oral, na faringe ou na laringe são aqueles que apresentam uma lesão visível ou atrapalham a mastigação, a deglutição ou a voz, ou seja, a função desses órgãos”, explica Dr. André.

Uma pesquisa realizada pelo Hospital A. C.Camargo durante a última década, avaliou as razões pelas quais os pacientes davam entrada na instituição com a doença avançada.

“O primeiro ponto que observamos, foi que isso acontecia por negligência do próprio paciente. 57% demoravam a chegar ao centro de tratamento nas fases iniciais, quando o curso da doença é indolente, muitas vezes assintomáticas, quando as lesões são pequenas, indolores”, aponta Dr. Thiago.

Os oncologistas do A. C. Camargo e do Hospital do Câncer de Barretos concordam que o grande agravante para os diagnósticos avançados é o fato de que profissionais que primeiro têm contato com a doença, não necessariamente estão preparados para identificá-la.

“As pessoas que estão nos postos de saúde, nos programas de saúde (…) os odontologistas não necessariamente estão preparados para reconhecer essa patologia. Esse é um problema que merece atenção global. Talvez a gente precise dar um passo atrás, formar os médicos para isso”.

fonte: Oncoguia

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